Quando se pensa a realidade do aluno que estuda no horário noturno, o risco da evasão escolar torna-se particularmente mais crítico. O aluno do curso noturno, de modo geral, é aquele que necessita voltar a estudar por questões comumente associadas à sua vida profissional; quase sempre sua trajetória escolar foi marcada por grande número de reprovações, levando-o a retomar seus estudos em horário noturno por incompatibilidade entre a jornada diurna e a demanda regular de suas atividades de trabalho. Esse mesmo aluno, submetido a uma jornada diária de seis a oito horas de trabalho, encontra-se muito prejudicado em relação ao horário de início das aulas, uma vez que frequentemente o horário de saída do trabalho o leva a perder os primeiros tempos de aula. Além disso, em função dos conteúdos mínimos exigidos e da própria dinâmica da escola noturna, ele tem que se valer de um extraordinário esforço para conseguir o êxito desejado: o diploma.
Estudos têm demonstrado que o desinteresse tem sido a principal causa de evasão desses alunos dos cursos noturnos. Tal fato se deve, em grande parte, ao ensino repetitivo, sem criatividade e demasiadamente cansativo, como mostrou, em 2005, no I Simpósio Internacional do Adolescente, a pesquisa realizada pelo professor José Carneiro.
Na verdade, desde a implantação dos cursos noturnos, datada do período imperial para atender aos desvalidos financeiramente, até o presente momento, pouco ou quase nada mudou para melhorar a qualidade do ensino nos cursos noturnos no Brasil.
Minimamente tem se discutido sobre o universo pluricultural e híbrido que há nos cursos noturnos. Pluricultural na medida em que agrega diferentes perfis de alunos, tais como: jovem-trabalhador, jovem que apenas estuda, adulto desempregado e o trabalhador que investe na sua formação. Híbrido, uma vez que esses diferentes perfis interagem, reconfigurando os territórios culturais a que cada um desses grupos pertence.
Partindo da premissa de que o que se tem hoje ainda é herança do período imperial, os cursos noturnos precisam urgentemente repensar e adequar as suas práticas, no intuito de serem atraentes e prazerosos, respeitando as culturas e as diferenças, minimizando assim a força exercida pelo desinteresse que leva ao aluno inevitavelmente ao abandono.
De meados da década de 1980 até o momento, inúmeros têm sido os esforços para manter uma criança na escola. Basta lembrar que para isso foram criadas diversas leis que visam punir os responsáveis que não matricularem seus filhos ou pupilos e até mesmo os diretores de escola que não notificarem ao Poder Público os alunos faltosos. Entretanto, há grande distância entre a lei e a realidade das escolas. Atualmente, o que se tem visto são escolas abandonadas à própria sorte e professores desmotivados, assoberbados de funções que o Poder Público parece ignorar ou fingir que está tudo bem.
A massificação de alunos matriculados nas escolas públicas se confronta com a falta de professores e a falta de recursos. Como pensar em escolarização de sucesso, se o básico a rede pública não tem: os professores?
A cada ano, particularmente nas escolas públicas estaduais, aumenta o número de abandonos de professores. O baixo salário, a violência e a falta de recursos têm sido os principais motivos. Como pensar em conter a evasão escolar se as condições básicas de um trabalhador da área de educação também não são respeitadas pelo Poder Público?
Para finalizar, é importante ressaltar que, dentro da perspectiva multicultural de um mundo cada vez mais globalizado, o que se percebe nos dias atuais (em pleno século XXI!), são escolas que ainda estão presas aos modelos tradicionais de educação. Tentar propor mudanças na práxis pedagógica, como, por exemplo, adotar uma perspectiva interdisciplinar que facilite a compreensão como um todo integrado e inter-relacionado, provoca certo frisson em grande parte dos educadores, que resistem e parecem ignorar que a geração atual não se limita apenas aos conteúdos dos livros didáticos.
Da mesma forma, é fundamental entender que o discente, principalmente o aluno do ensino noturno, precisa encontrar uma escola diferente da que ele já viu. Hoje, o aluno convive, compartilha e se deslumbra com as maravilhas do mundo virtual. E você, professor, quer viver no mundo das cavernas?
Luciano Luz Gonzaga
Professor da rede estadual do Rio de Janeiro
FONTE: http://www.educacaopublica.rj.gov.br/jornal/materias/0500.html